A Rapadura não é nossa!

O Brasil não quer entregar a rapadura. Para isso, já mobilizou suas representações diplomáticas em Berlim, Washington e Brasília contra uma pequena empresa alemã (Rapunzel) que é atualmente a "dona da marca" rapadura na Alemanha e nos Estados Unidos (fez o registro em 1989). Aparentemente, nenhum brasileiro se deu conta do fato até meados deste ano, quando uma comunicação anônima chegou ao conhecimento da Divisão de Propriedade Intelectual do Itamaraty.

No limite, qualquer exportador brasileiro de rapadura que vender o produto com esse nome para a Alemanha ou EUA será obrigado a pagar royalties à Rapunzel pelo uso da marca registrada. A rapadura e uma denominação geral de domínio público (assim como feijoada ou suco). Há três anos, o Brasil viveu uma situação semelhante, quando a empresa japonesa Asahi registrou a "marca" cupuaçu --uma fruta tipicamente nacional. Depois de várias gestões do Itamaraty, a Asahi concordou em abrir mão do registro no Japão e nos EUA.

Depois dos casos do cupuaçu e agora da rapadura, a Divisão de Propriedade Intelectual do Itamaraty começou a preparar uma lista com nomes tipicamente brasileiros para servir de indicação do que não deve ser registrado nos inúmeros escritórios de marcas e patentes espalhados pelo mundo. Jabuticaba vai constar da lista, mas há dúvidas sobre Carnaval.

A situação bizarra gerou protestos. Comerciantes da Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro gritavam: "Vamos registrar o chucrute. A rapadura é nossa!" "Vamos ressuscitar Lampião". A notícia veio à público em dezembro, mas até agora o Itamaraty não conseguiu avançar no imbróglio. Hoje, novos protestos foram realizados na frente do consulado da Alemanha, no Rio de Janeiro. A palavra de ordem: "A rapadura é nossa!!!"

E nós aqui nos preocupando com problemas banais como quem será o novo governante brasileiro ou a corrupção dos políticos, enquanto o malvado capital estrangeiro saqueia nosso patrimônio nacional (risos)! Hay que endurecer, pero sin perder la doçura ...

Pois é, amigos... finalizo com a filosofia de botequim: a vida é igual rapadura, é doce mas dura.